quinta-feira, 28 de maio de 2009

Meu Filho me pediu uma Boneca!

"Fragmentos de um email que recebi do meu amigo e comentarista do Fantástico Mundo: Flávio. Um texto verdadeiro e realista sobre uma mãe e as descobertas do seu filho. Vale a pena se despir dos preconceitos e ler o relato corajoso e desafiador dessa mãe. Um abraço a todos!"

Há uns dois meses meu filho de sete anos me pediu uma boneca. Dividida entre a intelectualidade dos estudos acadêmicos e os valores que a nossa "reaça" sociedade demonstra nas questões de gênero, dei a boneca," bancando" um barulho enorme por parte da família, colegas de trabalho, ex-marido e afins. Sem contar com a censura silenciosa de alguns, revelada por olhares ou gestos. É claro que recebi apoio e solidariedade. Mas o oposto foi muito mais pesado. Confesso que compreendo. Por parte de alguns mais, por parte de outros, menos. Mas respeito.O meu desconforto foi muito mais em relação a mim mesma do que às posturas percebidas, públicas ou anônimas, verdadeiras ou educadas. Foi duro encarar minha insegurança em assumir DE FATO uma posição em relação às minorias sociais. Foi esta imagem, refletida no espelho das relações familiares que meu filho e sua boneca me obrigaram a olhar. Tive que sustentar uma postura prática que há muito considerava como minha. Em teoria. Só descobri isto quando foi com um filho meu.
(...)
Enquanto isso, na vida real as opiniões se dividiam entre as seguintes opções:
OPÇÃO A: Não é nada demais, é só uma fase, (os conservadores, mal disfarçando o seu mal-estar psicologizando a "coisa")
OPÇÃO B: Ele está descobrindo a sexualidade, (os moderados)
OPÇÃO C: Ele esta aprendendo a cuidar dos filhos. Por que, homem não pode cuidar dos filhos, não é? (os progressistas-liberais de extrema esquerda intelectuais, dentre eles, minha querida "profdoc" Cristina Novikoff, um bálsamo na minha vida)
OPÇÃO D: Ele está querendo chamar a atenção em protesto por tudo que passou nestes últimos tempos (os contemporizadores sociologizando a mesma "coisa")
OPÇÃO E: Este menino vai é ser "viado" mesmo! (muitos, em off, é claro!)
OPÇÃO F: Nenhuma das anteriores (mas esta opção não é aceita na pedagogização da "coisa")
E eu ali, realizando uma pesquisa disfarçada sobre o assunto, coletando os dados, tratando-os e analisando os resultados!
(...)
Optei pela lealdade aos meus princípios. É neles que está o amor incondicional ao ser humano e o respeito às diferenças, que só se consolidam se você tiver um compromisso real com a verdade. A sua verdade. Possibilitando àquilo que é estranho, ser familiar. Esta postura é uma daquelas onde a gente bota a cara, sabe, e leva muita, mas muita porrada (não é Aninha?).Meu filho é um ser humano. Pode ser diferente ou não no sentido convencional das opções sexuais. Mas isto não é importante. É apenas uma categoria de análise. Logo, não posso abrir mão dos meus princípios, pois eles constituem a minha identidade. Mantenho-me fiel a eles.
(...)
Me emociono ao vê-lo dormir e me assusto com a rapidez com que está tendo que amadurecer, pois a vida não tem sido fácil para ele.Sendo assim, é muito fácil ser mãe deste ser humano de sete anos que me chama de mamãe. E se ele for gay, lésbica, hetero, bi, drag, transformista ou desejar uma cirurgia de mudança de sexo, tudo bem. Mesmo. O importante é que seja qual for o caminho escolhido, que seja pautado pelos princípios humanitários. Aqueles que fazem a gente ser decente e não nos torna indiferentes às misérias do mundo. E de quebra, que ame o seu próximo, respeitando a dignidade alheia. E que sonhe sempre com um mundo melhor, como antídoto para afastar o cinismo que ronda o cotidiano da perversidade.

Antônio, eu te amo meu filho.Por tudo. Mas principalmente por me fazer olhar, de forma corajosa para dentro de mim mesma.

Com amor,Mamãe.

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